Desde 1992, a Cúpula dos Povos se ergue como um grito de resistência — um espaço onde as vozes historicamente silenciadas pela desigualdade encontram eco. Em Belém, o encontro paralelo à COP30 reúne comunidades indígenas, quilombolas, movimentos de moradia, juventudes periféricas e organizações ambientais em torno de um mesmo objetivo: colocar a vida e os territórios no centro das decisões climáticas.
Enquanto as negociações oficiais da Conferência do Clima tratam de números e metas, a Cúpula discute o impacto real da crise sobre as populações que vivem nas florestas, nas águas e nas periferias urbanas. Localizada na Universidade Federal do Pará (UFPA), a Cúpula segue até o dia 16 de novembro, com uma programação que inclui rodas de diálogo, oficinas, plenárias e manifestações culturais.
Entre as participantes está Graça Xavier, coordenadora da União Nacional por Moradia Popular, que destacou a importância de tornar a conferência mais inclusiva e representativa. “Eu acredito que a COP tem que ser preparada com a voz do povo, porque até então quem acaba falando são as pessoas que não nos representam. Quem tem que ter voz são as populações negras, as mulheres e os povos originários”, afirmou.
Para Graça, o espaço da Cúpula dos Povos é onde a verdadeira participação popular acontece, mas ela defende que essa escuta também precisa chegar à conferência oficial. Infelizmente, a gente tem que repensar uma COP diferente, uma COP que seja inclusiva, e não exclusiva. Na COP oficial, quem fala são os chefes de Estado e as pessoas que captam recursos para fortalecer o capitalismo. Nós, mulheres negras e mulheres originárias, precisamos de uma COP onde possamos levar nossas reivindicações diretamente dos territórios”, disse.
Além das discussões sobre clima e justiça social, os movimentos presentes reforçaram a luta pelo direito à moradia digna como parte da agenda climática. Para Graça, garantir o acesso à moradia é o primeiro passo para assegurar todos os outros direitos. “A moradia é a porta de entrada para todos os direitos. Se toda a população compreendesse isso e se mobilizasse, seríamos ouvidas e respeitadas”, completou.
A Cúpula dos Povos segue como o espaço onde as soluções nascem de quem vive os impactos da crise todos os dias, um contraponto necessário à COP oficial, lembrando que não há justiça climática sem justiça social.
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