O ex-senador e ex-governador do Amapá, João Capiberibe, divulgou neste domingo (09) uma carta aberta ao presidente da República e aos governadores do Amapá e do Pará alertando para o risco iminente de salinização das águas na foz do Rio Amazonas. O documento denuncia que comunidades do Arquipélago do Bailique e da Ilha do Marajó já enfrentam a intrusão de água salgada e que o fenômeno pode afetar, em breve, o abastecimento de Macapá e Santana.
Alerta climático e social
Na carta, Capiberibe associa o avanço da água salgada ao aquecimento global e à elevação do nível do mar, fenômenos que têm modificado o equilíbrio hídrico da foz do rio. O ex-governador lembra que, desde 2018, comunidades como Itamatatuba enfrentam falta de água potável e que, a cada estiagem, o sal avança rio acima, alcançando Jupati, Mamão, Uruá e a foz do Macacoari. Segundo ele, “a água que abastece nossas cidades está sob grave ameaça”.

Demandas e consequências
Capiberibe adverte que, se nada for feito, mais de um milhão de pessoas poderão ficar sem acesso à água doce, o que provocará deslocamentos forçados, perda de modos de vida tradicionais e um colapso ambiental e humanitário na Amazônia. O ex-senador propõe medidas urgentes:
– monitoramento permanente da salinização das águas;
– planejamento de segurança hídrica com alternativas de abastecimento;
– articulação entre governos federal, estaduais e municipais, com participação das comunidades locais.
Mobilização pela foz do Amazonas
“O fenômeno não é previsão distante; já atinge nosso povo e, em breve, poderá atingir nossas capitais amazônicas”, escreveu. Capiberibe finaliza pedindo ação imediata: “Nós, filhos da foz do Rio Amazonas, não pedimos favores. Pedimos ação. A Amazônia não pode mais esperar.”
Veja a carta na íntegra:
Nasci no rio Charapucu, na Ilha de Marajó. Meu amigo Paulo Mota Rocha nasceu na Ilha do Franco, no Arquipélago do Bailique. Somos filhos da foz do Rio Amazonas. Desde a infância convivemos com a imensidão das águas e da floresta, íntimos dos ciclos da natureza, mas também testemunhas das rápidas e profundas mudanças que vêm ocorrendo nessa região tão frágil quanto estratégica para o Brasil e para o mundo.
Em nossas últimas conversas, temos compartilhado a preocupação crescente com a intrusão de água salgada no Rio Amazonas. Esse fenômeno, intensificado pelo aquecimento global, que provocou a elevação do nível do mar, já compromete a vida de comunidades inteiras no Arquipélago do Bailique e no Marajó. Em 2018, pela primeira vez, moradores de Itamatatuba ficaram sem água doce para beber. Desde então, o avanço da salinização tem sido implacável: alcançou Jupati, Mamão, Uruá, a foz do Macacoari e segue rio acima a cada estiagem.
A pergunta que não quer calar é: quando o Golfo Macapá–Marajó se tornará mar?
Nós, moradores e observadores atentos, estimamos que, em poucos anos cinco, seis, talvez –, esse processo se torne realidade. A ciência poderá precisar com maior rigor, mas o alerta é inequívoco: a água que abastece nossas cidades está sob grave ameaça.
Os impactos sociais e econômicos serão devastadores. Em Macapá e Santana, quase metade da população é abastecida pela rede da CSA (Companhia de Saneamento do Amapá), cuja captação é feita diretamente no rio. No Marajó, a situação é ainda mais dramática: 100% dos habitantes dependem da água doce do Amazonas. Se nada for feito, mais de um milhão de pessoas podem ficar sem acesso à água potável.
Em ilhas e comunidades ribeirinhas não há fontes alternativas próximas. Isso significará deslocamento forçado, insegurança alimentar, perda de modos de vida tradicionais e um colapso ambiental e humanitário de dimensões inéditas na Amazônia.
É preciso agir. A intrusão de água salgada na foz do Rio Amazonas não é mais previsão distante; já atinge nosso povo e, em breve, poderá atingir nossas capitais amazônicas.
Por isso, solicitamos, com urgência:
• a mobilização imediata de estudos científicos e a implantação de monitoramento permanente da salinização das águas;
• o planejamento de medidas de segurança hídrica para as populações vulneráveis, com alternativas de abastecimento de água potável;
• a articulação de uma resposta conjunta entre os governos federal, estaduais e municipais, com participação efetiva das comunidades locais, para enfrentar essa tragédia anunciada.
Nós, filhos da foz do Rio Amazonas, não pedimos favores. Pedimos ação. A Amazônia não pode mais esperar.
Respeitosamente,
João e Janete Capiberibe
Macapá – Amapá









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