Nas vésperas da COP30, Belém corre risco de colapso climático e pode enfrentar até 8 meses de calor extremo por ano - Estado do Pará Online

Nas vésperas da COP30, Belém corre risco de colapso climático e pode enfrentar até 8 meses de calor extremo por ano

A floresta dá o alerta, mas também aponta a solução: pequenos insetos ajudam a regenerar o verde e a refrescar a cidade

Belém, cercada pela maior floresta tropical do mundo, corre o risco de enfrentar um colapso térmico nas próximas décadas. Às vésperas de sediar a COP30, a capital paraense vive uma contradição: cresce em meio ao calor extremo e à perda acelerada de áreas verdes. E, entre diagnósticos sombrios e soluções tecnológicas complexas, uma das respostas mais promissoras vem da natureza: as abelhas nativas.

Segundo o climatologista José Marengo, do Cemaden, os efeitos da crise climática já são visíveis: “A estação chuvosa começa mais tarde, a estiagem dura mais e as ondas de calor estão cada vez mais intensas”.

Estudos internacionais, do Washington Post e da CarbonPlan, mostram que até 2050 Belém pode enfrentar até 222 dias de calor extremo por ano, quase oito meses de temperaturas próximas a 50 °C. No início dos anos 2000, eram cerca de 50 dias.

O avanço do calor está diretamente ligado à perda de cobertura vegetal e ao crescimento urbano desordenado. Com menos árvores, a cidade perde umidade, sombra e equilíbrio térmico.

De acordo com o professor Rodrigo Rafael, da UEPA, Belém possui apenas 2,5 árvores por habitante, enquanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda entre 9 e 12. “Com pouca sombra, evapotranspiração e vegetação, a cidade se transforma numa ilha de calor urbano”, explica.

O risco não está apenas na alta temperatura, mas na combinação perigosa entre calor e umidade. Os cientistas usam a chamada Temperatura de Bulbo Úmido (TBU) para medir o limite de sobrevivência do corpo humano e Belém já se aproxima perigosamente desse limite.

O Instituto Peabiru desenvolve um projeto inovador que usa abelhas nativas sem ferrão como aliadas na regeneração urbana. As colmeias estão sendo instaladas em diferentes áreas da cidade, formando um “cinturão verde” que ajuda a polinizar pés de açaí e outras espécies nativas.

O processo é natural e poderoso: as abelhas fortalecem a vegetação, aumentam a umidade do ar e ajudam a reduzir a temperatura local. O ciclo de resiliência se refaz  e ainda gera renda. O mel produzido nas colmeias é comercializado pelos próprios moradores, fortalecendo a economia comunitária.

Enquanto o planeta discute as grandes metas climáticas da COP30, Belém descobre que talvez as pequenas aliadas da floresta possam ensinar o caminho da sobrevivência.

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