Microsoft anula contrato com Israel usado na vigilância de palestinos - Estado do Pará Online

Microsoft anula contrato com Israel usado na vigilância de palestinos

Segundo a denúncia publicada pelo The Guardian no dia 6 de agosto, o governo israelense utilizava a plataforma Azure, serviço de nuvem da Microsoft, para armazenar em larga escala ligações telefônicas de palestinos.

A Microsoft anunciou nesta quinta-feira (25) o cancelamento de contratos com o Ministério da Defesa de Israel, após reportagem do jornal britânico The Guardian revelar que um software da companhia vinha sendo usado em programas de monitoramento e vigilância em massa de palestinos.

Em carta enviada aos funcionários, o presidente da big tech, Brad Smith, afirmou que a empresa encontrou evidências que confirmam “elementos” da investigação jornalística.

“As medidas que estamos tomando são para garantir a conformidade com nossos termos de serviço, com foco em assegurar que nossos serviços não sejam usados para vigilância em massa de civis”, declarou Smith.

O executivo ressaltou, no entanto, que a decisão não compromete “o importante trabalho que a Microsoft continua a fazer para proteger a segurança cibernética de Israel e outros países no Oriente Médio”.

O caso

Segundo a denúncia publicada pelo The Guardian no dia 6 de agosto, o governo israelense utilizava a plataforma Azure, serviço de nuvem da Microsoft, para armazenar em larga escala ligações telefônicas de palestinos. O sistema teria capacidade de guardar até 1 milhão de chamadas por hora em servidores localizados na Europa, servindo como ferramenta de apoio a ataques aéreos e operações militares em Gaza e na Cisjordânia.

De acordo com a reportagem, tratava-se de “um sistema abrangente e intrusivo que coleta e armazena gravações de milhões de chamadas de celular feitas diariamente por palestinos”.

Repercussão

O sociólogo Sérgio Amadeu, professor da Universidade Federal do ABC (UFABC) e especialista em tecnologias digitais, avalia que a resposta da empresa não resolve o ponto central.

“A Microsoft afirma que não armazena os dados obtidos por Israel, mas como garante isso? A companhia atua com outras big techs no fornecimento de sistemas de Inteligência Artificial para defesa, algo denunciado antes mesmo de 2023. Essas negativas só caem quando um novo vazamento força um pedido de desculpas”, disse.

Amadeu também alerta para o papel das grandes empresas de tecnologia em contextos de guerra. Segundo ele, a Faixa de Gaza se tornou “um laboratório de uso da IA para a fixação de alvos militares”, utilizando dados digitais da população local para identificar supostos militantes ou simpatizantes do Hamas.

Denúncias na ONU

A relatora especial da ONU para os Direitos Humanos na Palestina, Francesca Albanese, também já havia alertado em julho sobre o envolvimento de empresas como Microsoft, Alphabet (Google) e Amazon em operações militares de Israel e na instalação de assentamentos ilegais na Cisjordânia.

“Enquanto líderes políticos e governos se esquivam de suas obrigações, muitas entidades corporativas lucraram com a economia israelense de ocupação ilegal, apartheid e, agora, genocídio”, afirmou Albanese.

Leia também: