A contagem regressiva para o Círio de Nazaré já se reflete no Ver-o-Peso. Nas últimas semanas, a procura por maniva, base da tradicional maniçoba, disparou entre os fregueses que se antecipam ao almoço do segundo domingo de outubro. O prato, declarado patrimônio cultural imaterial do Pará, é presença obrigatória na mesa das famílias paraenses.
No setor de Folha e Raízes, 15 dos 26 boxes são dedicados à venda de maniva. Permissionários relatam crescimento de até 100% nas vendas às vésperas da maior festa religiosa do estado. A movimentação é tanta que alguns comerciantes chegam a cozinhar parte da produção dentro dos próprios boxes, algo incomum fora do período da festividade.
As folhas de macaxeira, trazidas de municípios como Acará, Moju, Barcarena e Santa Izabel, passam por lavagem e moagem antes de seguirem para o cozimento, que pode durar dias. Esse processo é fundamental para eliminar o ácido cianídrico presente na planta, tornando-a própria para o consumo.
Vendas e preços
A rotina começa cedo no Ver-o-Peso. A maniva pode ser encontrada entre 6h e 18h, de segunda a sábado, e até 14h aos domingos. Os preços variam conforme o preparo: de R$ 5 a R$ 6 o quilo da maniva crua, R$ 7 a pré-cozida e até R$ 10 a cozida por mais tempo.
Jane Santos, vendedora da Barraca do Gordo há 25 anos, confirma o movimento intenso. “A maniva está sendo muito procurada. A partir do fim de setembro e por todo o mês de outubro a venda permanece alta. Como é período do Círio, a demanda aumenta até por conta das entregas de encomendas”, conta.

Luciano Bentes, do Box da Dinair, que trabalha no local há três décadas, também sente o impacto da data. “Durante todo o ano tem movimento, e a cada dia a gente vende uma quantidade, mas em outubro melhora 100%. A gente vende muito mais do que em um dia normal”, afirma.

Da feira para a mesa
Após comprada, a maniva retorna ao cozimento nas casas dos paraenses, onde se junta a carnes dessalgadas, defumados, embutidos e temperos variados. Cada família guarda a própria versão da maniçoba, que ganha destaque no almoço do Círio, acompanhada de arroz branco, farinha e pimenta.
Mais do que um prato típico, a maniçoba é memória afetiva e símbolo de tradição. No Pará, o cheiro da maniva no fogo é sinal de que o Círio está chegando.
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