Chikungunya segue em alta no Brasil e preocupa especialistas - Estado do Pará Online

Chikungunya segue em alta no Brasil e preocupa especialistas

Após dez anos da chegada do vírus, país ainda enfrenta desafios no controle do mosquito transmissor e na assistência a pacientes

Fernando Frazão / Agência Brasil

Mais de uma década depois de os primeiros casos serem identificados no Brasil, a chikungunya continua a desafiar autoridades de saúde e pesquisadores. A doença, transmitida pelo Aedes aegypti e pelo Aedes albopictus, já provocou mais de 121 mil registros somente neste ano, com 113 mortes confirmadas até setembro. Os números reforçam a preocupação de especialistas quanto ao avanço do vírus no território nacional.

Em Salvador, durante o Congresso Nacional de Reumatologia, a médica Viviane Machicado Cavalcante, presidente da Sociedade Baiana de Reumatologia, destacou que o maior obstáculo ainda está no combate ao vetor. Segundo ela, o clima tropical, aliado à precariedade do saneamento básico, dificulta a redução de focos.

“Ainda existem muitos desafios para a gente tratar e controlar essa doença no Brasil. O primeiro destaque que temos é o controle desse vetor. A gente mora numa zona tropical e em que há dificuldade de controle por causa [da falta de] saneamento básico. E a gente precisa também de uma adequação do sistema de saúde para acompanhamento desses pacientes, principalmente na rede pública. Dependendo da região, não existem ambulatórios suficientes no Brasil para acompanhar esse paciente”, disse.

O alerta ecoa em um momento de preocupação internacional. A Organização Pan-Americana da Saúde informou recentemente que surtos da doença se intensificaram em países da América do Sul e do Caribe. Até agosto, 14 nações relataram 212 mil casos suspeitos e 110 mortes, sendo a maioria concentrada no Brasil, Bolívia, Paraguai e Caribe.

O Nordeste, onde surgiram os primeiros registros no país, segue como região de grande incidência, mas hoje o vírus já se espalha por todo o território brasileiro. Minas Gerais e Mato Grosso do Sul figuraram entre os estados mais atingidos no último ano.

“O Nordeste foi grande epicentro dessa doença, então foi aqui que os primeiros casos ocorreram, a gente começou a tratar mais essa doença e ela ainda continua [a existir] com grande carga. Hoje o vírus está espalhado por todo o Brasil e há descrição de que já houve cerca de sete grandes ondas epidêmicas detectadas no país nos últimos dez anos”, ressaltou a especialista.

Se a propagação do mosquito preocupa, o caminho da imunização também vive incertezas. O Instituto Butantan desenvolveu, em parceria com a farmacêutica Valneva, uma vacina de vírus vivo atenuado, que recebeu autorização da Anvisa em abril para aplicação em maiores de 18 anos. No entanto, os Estados Unidos suspenderam a licença do mesmo imunizante após efeitos adversos graves, incluindo hospitalizações e mortes.

“Essa notícia é recente, do final de agosto. Há cerca de um mês, os Estados Unidos, que têm essa vacina aprovada e que já estava em comercialização, suspendeu a licença do imunizante, porque foram evidenciados alguns casos de efeitos adversos relacionados à vacina, inclusive de encefalite idiopática. O FDA suspendeu a licença, só que a gente não sabe ainda qual vai ser o posicionamento da Anvisa em relação a isso”, afirmou Viviane.

A chikungunya provoca sintomas como febre alta, dores intensas nas articulações, dor de cabeça e manchas vermelhas. Em casos graves, os pacientes podem desenvolver dores crônicas que se arrastam por anos. Enquanto não há definição sobre a vacina, a recomendação segue sendo eliminar os criadouros de mosquito, evitando a água parada em recipientes e espaços abertos. Medida simples, mas considerada essencial para conter novas ondas da doença.

Informações da Agência Brasil

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