O Brasil assistiu nesta quinta-feira (28) à maior operação policial já realizada contra o crime organizado no país. Batizada de Carbono Oculto, a ofensiva mobilizou 1.400 agentes das polícias Federal, Civil e Militar, além do Ministério Público e da Receita Federal, para cumprir mais de 350 mandados de busca, apreensão e prisão em oito estados.
O alvo é um esquema bilionário do Primeiro Comando da Capital (PCC), que fraudava combustíveis, lavava dinheiro em fundos de investimento e sonegava impostos em escala recorde. Segundo o Ministério Público de São Paulo (MP-SP), a facção teria sonegado R$ 7,6 bilhões em tributos federais, estaduais e municipais.
Metanol em níveis letais
As investigações revelaram que postos de combustíveis ligados à organização vendiam gasolina e etanol com até 90% de metanol — uma substância altamente tóxica e inflamável, cuja concentração máxima permitida pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) é de apenas 0,5%.
“O metanol encontrado em alguns postos é um risco gravíssimo para pessoas, veículos e para o meio ambiente. Estamos falando de uma substância que pode corroer motores, causar intoxicações e explosões”, afirmou o promotor Yuri Fisberg, do Gaeco, durante coletiva de imprensa.
Além da fraude qualitativa (adulteração com metanol), consumidores também eram vítimas de fraude quantitativa: pagavam por volumes de combustível inferiores ao registrado nas bombas.
Esquema milionário via Paranaguá
Um dos eixos centrais da fraude era a importação irregular de metanol pelo Porto de Paranaguá (PR). Oficialmente destinado a indústrias químicas, o produto era desviado para empresas de fachada ligadas ao PCC. Transportado em condições precárias, chegava clandestinamente a postos e distribuidoras em São Paulo e outros estados.

Segundo estimativas do setor, 30% dos postos de combustíveis de São Paulo — cerca de 2.500 estabelecimentos — podem estar abastecendo consumidores com combustíveis adulterados.
Expansão e violência
O dinheiro ilícito financiou a compra de usinas sucroalcooleiras, distribuidoras, transportadoras e redes de postos de gasolina. Fazendeiros e empresários do setor eram coagidos a vender propriedades por valores abaixo do mercado sob ameaça de morte.
A rede criminosa utilizava laranjas, empresas de fachada, fintechs e fundos de investimento para lavar e blindar o patrimônio. A Receita Federal identificou ao menos 40 fundos controlados pelo PCC, com R$ 30 bilhões em ativos, muitos operando no coração do mercado financeiro da Avenida Faria Lima, em São Paulo.
Empresas e alvos
Entre os principais alvos da operação estão:
Grupo Aster/Copape: dono de usinas, distribuidoras e postos usados na adulteração;
BK Bank: fintech utilizada para movimentação de recursos em contas “bolsão” não rastreáveis;
Reag: fundo de investimento usado para compra de empresas e usinas e para ocultação patrimonial.
No total, mais de 300 postos de combustíveis já foram identificados como parte do esquema.
Risco ao consumidor e à economia
O MP-SP alerta que o esquema prejudica não apenas motoristas enganados nas bombas, mas toda a cadeia econômica ligada ao setor de combustíveis, incluindo concorrência leal, arrecadação pública e segurança ambiental.
A Secretaria da Fazenda de São Paulo vai pedir o bloqueio de bens no valor de R$ 7,6 bilhões para recuperar os tributos sonegados.
Operação histórica
Coordenada pelo Gaeco (MP-SP), com apoio do MPF, Receita Federal, ANP e PGE-SP, a operação foi deflagrada simultaneamente em São Paulo, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Paraná, Rio de Janeiro e Santa Catarina.
“O PCC estruturou uma rede sofisticada, infiltrada no mercado de combustíveis e no sistema financeiro. Mas hoje demos um golpe sem precedentes contra essa engrenagem criminosa”, destacou um dos procuradores envolvidos.


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